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REELEIÇÃO DE PREFEITOS EM 2024 ALCANÇA RECORDE HISTÓRICO NO BRASIL: CONHEÇA OS NÚMEROS E OS FATORES QUE EXPLICAM O FENÔMENO

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A eleição municipal de 2024 promete entrar para a história com o maior número de prefeitos buscando a reeleição em todo o Brasil. Dados preliminares da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, neste ciclo, mais de 70% dos prefeitos atualmente no cargo estão se candidatando novamente. Este número representa o maior índice de tentativa de reeleição desde que a possibilidade foi instaurada para o Executivo municipal, em 2000. Com isso, os eleitores brasileiros enfrentam um cenário de continuidade e estabilidade, mas também um debate sobre renovação e inovação política nas cidades.

Nas eleições de 2020, aproximadamente 60% dos prefeitos buscaram a reeleição, com cerca de 50% conseguindo um novo mandato. Este ano, o aumento nas candidaturas à reeleição surpreendeu analistas políticos, que veem o fenômeno como reflexo de múltiplos fatores, incluindo as circunstâncias econômicas e a pandemia de COVID-19, que alteraram a percepção dos eleitores em relação aos mandatos municipais.

O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, destaca que a busca pela reeleição em massa não é um mero reflexo de estratégias de carreira, mas uma tentativa dos prefeitos de completar projetos iniciados, especialmente aqueles que enfrentaram desafios financeiros e estruturais devido ao cenário pandêmico. “A pandemia afetou não só a saúde pública, mas também atrasou várias obras e investimentos nas cidades. Isso faz com que muitos prefeitos sintam que precisam de mais tempo para concluir seus projetos e mostrar resultados concretos à população”, explica Ziulkoski.

Entre os fatores que impulsionam o aumento nas tentativas de reeleição, destacam-se:

1. Pandemia e Seus Impactos no Mandato: A crise de saúde pública deixou muitas gestões municipais com recursos limitados, redirecionados principalmente para o setor da saúde. Em função disso, muitos gestores não conseguiram avançar com obras e programas previstos em áreas como infraestrutura, educação e segurança. A possibilidade de um segundo mandato é vista como uma oportunidade para entregar os projetos que ficaram parados ou foram atrasados.

2. Estabilidade Política e Financeira: O cenário econômico instável, marcado por inflação e dificuldades financeiras em diversos estados e municípios, fez com que os prefeitos assumissem posturas de cautela em relação a novos projetos. Segundo especialistas, a continuidade de um governo municipal é vista como uma forma de garantir a estabilidade e o andamento de ações em curso.

3. Fortalecimento de Bases Locais: Ao longo dos últimos anos, prefeitos em busca de reeleição têm focado em consolidar suas bases políticas locais, o que se traduz em apoio direto de lideranças comunitárias e partidos locais. Isso cria um cenário vantajoso para os prefeitos em exercício, que contam com apoio estruturado e reconhecimento de seus nomes nas regiões.

4. Apoio Federal e Programas de Financiamento: Muitos prefeitos em busca da reeleição têm firmado parcerias com o governo federal, obtendo recursos para projetos em áreas-chave como educação e infraestrutura. O apoio federal é, muitas vezes, condicionado a continuidade administrativa, o que cria um incentivo adicional para que prefeitos mantenham seus cargos e deem sequência aos investimentos.

Com o recorde de candidatos à reeleição, os eleitores de 2024 se encontram em um contexto de escolha entre a continuidade de gestões atuais e a possibilidade de renovação política. A situação é complexa, pois, enquanto muitos eleitores preferem a estabilidade e a conclusão dos projetos em andamento, há uma parcela da população que busca novas lideranças com abordagens inovadoras.

De acordo com a analista política Luciana Paiva, o fenômeno da reeleição em massa reflete também uma resistência à mudança: “Em um cenário de incerteza, as pessoas tendem a manter o que conhecem. Esse fator psicológico é importante para compreender o aumento das reeleições, mas ele também limita as possibilidades de renovação e inovações no setor público”. Paiva também alerta para o risco de perpetuação de figuras políticas em cargos locais, o que pode gerar um esgotamento do potencial de novas políticas e soluções para os problemas da cidade.

Embora o movimento pela reeleição seja visto em todo o Brasil, estados como São Paulo, Minas Gerais e Bahia destacam-se pelo elevado número de prefeitos buscando um segundo mandato. Em São Paulo, por exemplo, 75% dos atuais prefeitos devem disputar a reeleição, enquanto na Bahia esse índice chega a 78%, de acordo com dados divulgados pela CNM.

A tendência é observada em municípios de diferentes perfis: tanto em grandes cidades com uma dinâmica complexa quanto em pequenos municípios, onde a figura do prefeito é mais próxima da comunidade. Em muitos desses locais, a continuidade no poder é vista pelos eleitores como uma maneira de garantir a realização de demandas e de fortalecer a infraestrutura local.

Para os prefeitos que conseguirem a reeleição, o segundo mandato virá com uma série de desafios. Muitos dos problemas estruturais e financeiros que surgiram durante a pandemia continuam presentes, exigindo uma gestão eficiente e criativa para otimizar recursos e atender à população. Além disso, o cenário de reeleição em massa também pressiona o próximo governo federal a fortalecer o repasse de verbas e a apoiar iniciativas locais de saúde e educação.

A cientista política Maria do Carmo Fonseca ressalta que, apesar do potencial de continuidade de políticas, o segundo mandato pode trazer um risco de “fadiga administrativa”, em que gestores perdem parte da motivação inicial. “O segundo mandato é, muitas vezes, mais desafiador, pois há uma cobrança maior por resultados. Os eleitores que optaram pela continuidade esperam soluções rápidas para problemas que ficaram parados no primeiro ciclo”, destaca Fonseca.

Com o recorde histórico de candidatos à reeleição, as eleições de 2024 também trazem à tona questões sobre a renovação do cenário político municipal no Brasil. O debate sobre reeleição levanta reflexões importantes sobre os benefícios e limitações da continuidade versus a renovação.

A alta taxa de reeleições reflete o desejo de estabilidade e de continuidade em um período de desafios econômicos e sociais, mas também representa um possível obstáculo para o surgimento de novas lideranças políticas. Os eleitores, portanto, terão um papel crucial ao decidir entre manter prefeitos em quem confiam ou apostar em novos candidatos que tragam mudanças.

As urnas de 2024 serão um termômetro da confiança da população nas gestões atuais e também um teste para o modelo de reeleição no Brasil, que, ao que tudo indica, continuará a ser uma peça importante no cenário político das cidades brasileiras.

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