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CONFIANÇA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA CAI PELO SEGUNDO MÊS CONSECUTIVO EM OUTUBRO, REVELA FGV

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A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou recentemente que a confiança da indústria brasileira recuou pelo segundo mês consecutivo em outubro de 2024. A queda foi impulsionada por uma combinação de fatores, como a persistente incerteza econômica, a alta dos juros e a desaceleração da demanda interna. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), que avalia o otimismo dos empresários do setor, caiu para 90,4 pontos, uma retração de 1,5 ponto em comparação com setembro. Este recuo reflete um aumento nas preocupações com a atividade econômica e os desafios para o crescimento do setor industrial.

O setor industrial enfrenta dificuldades para manter um ritmo estável de crescimento, em meio à desaceleração da economia global e ao aumento do custo do crédito no Brasil. Segundo especialistas, a alta taxa básica de juros (Selic) tem pressionado as empresas, encarecendo os financiamentos para investimentos e dificultando o acesso ao crédito para as pequenas e médias indústrias.

Além disso, a demanda doméstica está enfraquecida, o que afeta diretamente o setor. Os consumidores, que também lidam com o aumento do custo de vida, estão reduzindo as compras, o que impacta as indústrias de bens duráveis e de consumo. “A combinação de juros altos e inflação ainda elevada tem freado o consumo interno e levado as empresas a revisarem seus planos de produção,” explica Silvia Matos, coordenadora da área de economia aplicada do FGV IBRE.

O Índice de Expectativas, que reflete a perspectiva dos empresários para os próximos meses, também apresentou queda. A confiança dos empresários para os próximos seis meses caiu para 86,3 pontos, o que indica um pessimismo quanto à recuperação econômica. A maior preocupação recai sobre a possibilidade de que a manutenção dos juros elevados e o cenário incerto global impactem negativamente a atividade industrial no Brasil a médio e longo prazo.

A falta de perspectiva de melhora no mercado interno tem levado as indústrias a se tornarem mais cautelosas em relação a investimentos e contratação de mão de obra. Para André Rebelo, economista e consultor do setor industrial, “a insegurança sobre o ritmo de recuperação econômica leva as empresas a reduzir a capacidade produtiva, além de adiar investimentos estratégicos e expansão.”

A queda na confiança da indústria não apenas reflete, mas também impacta o mercado de trabalho. Muitas indústrias estão reduzindo as contratações e adotando uma postura conservadora em relação ao quadro de funcionários. Isso pode ser observado no número crescente de empregos temporários em detrimento dos contratos permanentes.

O ritmo da produção também segue enfraquecido. Setores como o automotivo, o de eletrodomésticos e o de construção civil têm sofrido com a queda nas vendas e no consumo. Essas áreas, que dependem fortemente do crédito e da estabilidade econômica, enfrentam desafios adicionais, como o aumento dos custos de insumos. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a retração no setor pode levar a uma redução ainda mais acentuada no nível de emprego, afetando milhares de trabalhadores.

Diante do cenário de queda na confiança, o setor industrial tem feito uma série de reivindicações ao governo federal. Entre as principais demandas estão a redução da taxa Selic, o incentivo à desoneração da folha de pagamento e o estímulo à inovação tecnológica para aumentar a competitividade. As lideranças industriais também pedem a agilização da reforma tributária, que poderia simplificar a cobrança de impostos e reduzir a carga tributária, tornando o ambiente de negócios mais atrativo.

Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), destacou que “é crucial que o governo adote políticas que incentivem o investimento e o consumo, possibilitando que a indústria se fortaleça e gere empregos.” Segundo ele, a redução dos juros seria um passo importante para facilitar o acesso ao crédito e estimular o crescimento.

Com o fim do ano se aproximando, o setor industrial espera por uma virada de cenário, ainda que moderada. Analistas do setor apontam que a recente desaceleração nos aumentos de preços e a possibilidade de cortes graduais na taxa de juros em 2025 podem começar a beneficiar o mercado e estimular uma recuperação gradual. Entretanto, a recuperação plena depende de fatores externos, como o crescimento da economia global e a estabilidade no mercado de commodities, além das políticas internas de incentivo ao consumo e ao crédito.

A previsão do Banco Central para o crescimento econômico em 2024 é de apenas 1,2%, o que representa um desafio para setores como o industrial, que necessita de um ambiente econômico mais favorável para expandir. Além disso, o desempenho da economia mundial e as expectativas para o comércio global influenciam diretamente as exportações brasileiras, representando um ponto de incerteza adicional.

A queda consecutiva na confiança da indústria é um reflexo das dificuldades que o setor enfrenta diante do cenário econômico atual. Com a persistente pressão dos juros altos, a retração na demanda interna e a incerteza global, o setor industrial brasileiro encontra-se em uma encruzilhada. A busca por soluções viáveis, que possam estimular o setor e devolver o otimismo aos empresários, é uma prioridade tanto para a indústria quanto para o governo.

Para o Brasil, a recuperação da confiança industrial é fundamental, pois o setor é responsável por uma parcela significativa da economia e do mercado de trabalho. Especialistas concordam que, sem um ambiente propício ao crescimento industrial, será difícil garantir a sustentabilidade do desenvolvimento econômico. Em um momento de incertezas, a implementação de políticas públicas favoráveis ao setor será essencial para garantir que o Brasil retome o caminho do crescimento e que a indústria volte a ser um motor de desenvolvimento no país.

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