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MEMÓRIAS GUARDADAS EM CÉLULAS EM FORMA DE ESTRELA: ESTUDO REVELA NOVO PAPEL DAS ASTROGLIAS NO CÉREBRO HUMANO

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Um estudo inovador publicado recentemente revelou que células cerebrais em forma de estrela, conhecidas como astroglias ou astrócitos, desempenham um papel essencial na formação e no armazenamento de memórias. Antes vistas apenas como células de suporte para os neurônios, as astroglias agora são reconhecidas como participantes ativas em processos cognitivos, incluindo a memorização e a consolidação de experiências.

A descoberta representa um grande avanço na neurociência e desafia o entendimento tradicional de que apenas os neurônios têm um papel ativo na formação de memórias. Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, encontraram evidências de que essas células estreladas são fundamentais para sustentar e organizar as conexões neuronais que formam a base das memórias.

As astroglias, ou astrócitos, são células da glia, um tipo de célula não neuronal que constitui cerca de 50% do cérebro humano. Seu nome deriva do formato em estrela, com longos prolongamentos que permitem que se conectem a múltiplos neurônios simultaneamente. Até recentemente, acreditava-se que seu papel era principalmente de suporte, fornecendo nutrientes, regulando o ambiente químico e garantindo o funcionamento dos neurônios.

No entanto, o estudo recente mostrou que as astroglias são mais do que células auxiliares; elas participam diretamente na comunicação entre neurônios e são fundamentais na formação das sinapses — as conexões que formam a base da memória e da aprendizagem. Segundo o Dr. Samuel Weisz, neurocientista que liderou a pesquisa, “descobrimos que as astroglias ajudam a estabilizar as conexões entre neurônios, o que é crucial para que as memórias sejam formadas e mantidas.”

Para realizar o estudo, os cientistas utilizaram técnicas avançadas de microscopia e rastreamento de células, além de experimentos com animais e modelos de células humanas. Eles observaram que, em momentos de consolidação da memória, as astroglias se aproximavam das sinapses recém-formadas, estabilizando e fortalecendo essas conexões.

Durante a fase de consolidação de uma nova memória, as astroglias foram vistas liberando moléculas específicas que ajudam a reforçar as sinapses. Essas moléculas sinalizam para os neurônios que a conexão recém-formada é importante, ajudando a manter a memória por mais tempo. Além disso, ao envolver fisicamente as sinapses, as astroglias protegem essas conexões contra interferências, facilitando a estabilização das memórias de longo prazo.

Essa atuação ativa das astroglias nas sinapses é um achado revolucionário. Até agora, a ideia dominante era de que a memória dependia apenas da plasticidade sináptica dos neurônios. Com as astroglias participando ativamente desse processo, o entendimento de como o cérebro armazena informações passa a incluir essas células, até então subestimadas.

A descoberta de que as astroglias participam do armazenamento de memórias abre novos caminhos para o tratamento de distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Doenças como o Alzheimer, a esclerose múltipla e outras desordens neurodegenerativas afetam diretamente as células gliais e as sinapses. Agora, com um entendimento mais amplo do papel das astroglias, os cientistas podem desenvolver novos tratamentos focados em preservar ou restaurar a função dessas células para melhorar a memória e a cognição.

Em pacientes com Alzheimer, por exemplo, as astroglias estão entre as primeiras células a serem afetadas. Com base no novo estudo, há esperança de que terapias direcionadas a proteger e fortalecer essas células possam retardar o avanço da doença ou até restaurar parte da função perdida.

“Entender que as astroglias têm um papel direto na memória nos oferece um novo alvo terapêutico. É possível que consigamos desenvolver medicamentos para preservar ou até fortalecer essas células em casos de demência, o que pode ser um grande avanço para milhões de pacientes,” comenta a Dra. Helena Norato, pesquisadora em neurociência e especialista em doenças degenerativas.

Apesar da descoberta promissora, a aplicação prática desses conhecimentos ainda enfrenta desafios. Cientistas agora buscam entender como ativar seletivamente as astroglias sem comprometer a função dos neurônios ou causar efeitos colaterais no cérebro. Além disso, a função das astroglias pode variar em diferentes regiões cerebrais, e estudos adicionais serão necessários para entender como essas células interagem em diferentes partes do cérebro e em diferentes tipos de memória, como a memória emocional e a memória espacial.

Outro ponto em discussão é o impacto do envelhecimento nas astroglias. À medida que envelhecemos, a capacidade de formar e consolidar memórias diminui, e uma das hipóteses dos pesquisadores é que as astroglias podem perder parte de sua função com o avanço da idade. Estudos futuros poderão avaliar se é possível rejuvenescer essas células, recuperando sua função e, assim, melhorar a memória em idosos.

A revelação de que as astroglias desempenham um papel fundamental na memória representa uma nova fronteira na neurociência, abrindo espaço para um campo de estudos focado nessas células. Essa descoberta não apenas redefine o entendimento sobre a memória, mas também sugere que o cérebro é um sistema mais complexo e integrado do que se imaginava.

Segundo Dr. Samuel Weisz, “estamos apenas começando a entender o verdadeiro potencial das astroglias. Elas são o suporte dos neurônios, mas também são protagonistas na formação de memórias. Essa mudança de perspectiva pode alterar fundamentalmente a forma como tratamos e prevenimos doenças neurológicas.”

O estudo sobre as astroglias revela que as memórias são guardadas de maneira muito mais complexa do que se pensava. Essas células em forma de estrela, antes subestimadas, mostram-se essenciais para a formação e o fortalecimento das lembranças, garantindo que as conexões neurais se mantenham estáveis ao longo do tempo. Essa descoberta não só oferece um novo olhar sobre o funcionamento do cérebro humano, mas também traz esperança de novos tratamentos para doenças que afetam a memória e a cognição.

Enquanto os cientistas exploram cada vez mais o papel das astroglias, a neurociência avança em direção a um entendimento mais profundo e completo do cérebro humano, um dos órgãos mais complexos e fascinantes da natureza.

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