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Política

Servidores do IBGE protestam contra gestão de Marcio Pochmann, ex-candidato a prefeito de Campinas

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Servidores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizaram um protesto na manhã desta quarta-feira (29) em frente à sede do instituto, no Rio de Janeiro. O principal alvo das críticas foi o presidente do órgão, Marcio Pochmann, economista filiado ao PT e ex-candidato à Prefeitura de Campinas.

Nos últimos meses, o sindicato dos servidores do IBGE, Assibge, tem promovido paralisações e mobilizações contra o que chama de “autoritarismo” da gestão Pochmann. Os trabalhadores cobram diálogo e esclarecimentos sobre mudanças promovidas pela direção, como a criação da fundação de direito privado IBGE+, alterações no estatuto do instituto, mudanças nos locais de trabalho dos funcionários e a extinção do trabalho remoto.

Em meio à crise interna, o presidente IBGE, afirmou ser “natural as pessoas terem visões diferentes”. Horas após o protesto desta quarta-feira, o governo federal suspendeu a IBGE+.

Protesto nesta quarta-feira

Durante o ato realizado no Centro do Rio, servidores entoaram palavras de ordem contra Pochmann e pediram sua saída do cargo.

“Ele está atacando o sindicato. Nós somos o IBGE”, disse a servidora Maria Lúcia Vilarinhos. “Fortalecer o IBGE para nós é ter recursos próprios para sabermos que vai ter Censo Demográfico a cada dez anos, Contagem da População, Censo Agropecuário.”

Os manifestantes também cobraram mais orçamento para o instituto, a contratação de servidores efetivos e respeito aos trabalhadores. Embora a reivindicação oficial do sindicato seja a abertura de diálogo, foi possível ouvir gritos de “Fora, Pochmann” entre os participantes.

“Seria bom que ele fosse embora, que arrumasse um cargo em outro lugar para ganhar mais. Ele não entende nada do IBGE, não entende como funciona, não entende nada das pesquisas”,

discursou Gleice Assis, que integra um dos núcleos regionais do Assibge-SN.

O ato de protesto foi convocado pelo Assibge, após reunião virtual com a participação de mais de mais de 50 coordenadores de núcleos para debater a crise no instituto.

Fundação de direito privado IBGE +

O IBGE enfrenta uma crise interna há meses, agravada pela proposta de criação da fundação de direito privado IBGE+, apelidada de “IBGE Paralelo”. O estatuto da fundação permitiria a captação de recursos privados para financiar pesquisas do órgão, o que gerou preocupações sobre uma possível privatização do instituto.

Diante da pressão dos trabalhadores, o governo federal suspendeu temporariamente a fundação nesta quarta-feira. Em nota, o Ministério do Planejamento afirmou que a decisão foi tomada “em comum acordo” com o IBGE.

“Resolvem, em comum acordo, suspender temporariamente a iniciativa da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), proposta apoiada pelo MPO [ministério], para o desenvolvimento institucional e a ampliação das fontes de recursos para o IBGE”,

diz a nota.

Acusações e reação dos servidores do IBGE

Na última sexta-feira (24), o IBGE divulgou um comunicado da presidência ocupada por Marcio Pochmann sugerindo que a gestão dele vem sendo criticada em retaliação a instauração de uma investigação interna sobre uma denúncia anônima de ilícito e conflito de interesses envolvendo servidores.

A presidência do instituto afirma que há indícios de que recursos do IBGE, via BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), teriam sido direcionados à Science para a realização de pesquisas.

Depois da acusação, o sindicato dos trabalhadores do órgão respondeu, afirmando que nenhum de seus integrantes têm qualquer relação com a suposta denúncia nem com a consultoria mencionada nas investigações.

O sindicato afirma ainda que “a linguagem propositalmente confusa adotada no Comunicado da Presidência, buscando associar as possíveis irregularidades aos servidores que têm protestado contra a gestão foi ato de deliberada desinformação, aproximando-se de uma prática difamatória”.

Consultoria privada Science

O comunicado da Presidência do IBGE alegava ter identificado situações de conflito de interesses na atuação da consultoria privada Science, que teria em seu quadro de funcionários servidores ativos e inativos.

A presidência diz ter documentos sugerindo um aporte de recursos do IBGE da ordem de US$ 50 mil para o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que seriam transferidos para a Science para realização de pesquisa.

O comunicado do IBGE menciona ainda uma carta-convênio do BID para a consultoria com previsão de um repasse de US$ 440 mil para a realização da mesma pesquisa, com previsão de aporte de recursos adicionais de mais US$ 220 mil, o que totalizaria US$ 660 mil.

Carta aberta

Em carta aberta, trabalhadores lotados na Ence responderam que os recursos citados no comunicado da presidência do IBGE referem-se ao “Projeto Regional Indicadores ambientais e de mudança climática”, gerido pelo Hub Regional da ONU (Organização das Nações Unidas) para Big Data no Brasil.

A iniciativa, sediada na própria Ence, seria externa às atividades do plano regular de pesquisa do IBGE, alinhada às atividades acadêmicas e científicas de inovação, com potencial de apoiar as estatísticas públicas, em harmonia com as recomendações internacionais. Eles acrescentam que os recursos do BID teriam sido repassados à consultoria para o projeto através de um pedido da própria direção do IBGE à época.

“Conforme disponível na própria página da entidade, ‘o Hub Regional das Nações Unidas para Big Data no Brasil visa contribuir para o avanço no uso de big data para melhorar a produção de estatísticas oficiais, promovendo o compartilhamento de conhecimento e o desenvolvimento de iniciativas inovadoras na América Latina e Caribe’”, destacam os servidores da Ence. “Dada a especificidade dos trabalhos desenvolvidos pela Escola na área de ensino, pesquisa e extensão, não há irregularidade no financiamento de atividades de pesquisa acadêmica, científica e tecnológica com aportes de organismos multilaterais como é o caso do BID. A Ence é IBGE, mas possui atividades distintas daquelas ligadas ao plano regular de trabalho do Instituto por meio de suas diretorias finalísticas”.

Os servidores afirmaram ainda que a Escola Nacional de Ciências Estatísticas é uma instituição de ensino superior que responde administrativamente ao IBGE, mas também ao MEC (Ministério da Educação), por conta das atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Os professores, pesquisadores e técnicos desenvolvem pesquisas acadêmicas e de inovação tecnológica, com financiamento de entidades de fomento, por isso os servidores argumentam não haver conflito de interesses na participação em projetos dessa natureza.

Eles defendem ainda que “os dispositivos legais e normativos não preveem impedimento para que servidores exerçam atividades de consultoria para associações científicas tais como a Science, que é uma sociedade de direito privado para fins não econômicos, ação social, educativa e sem fins lucrativos”.

Represália às críticas

Os servidores da escola dizem que as acusações publicadas pela gestão Pochmann são uma “represália às críticas”.

“Nesse ínterim, consideramos as acusações levantadas contra professores e pesquisadores ativos e inativos da Ence e, portanto, do IBGE, um ataque leviano à integridade e trajetória profissional dos servidores do Instituto. Trata-se de uma investida que se soma às iniciativas tomadas contra a Assibge em represália às críticas e preocupações legítimas do corpo funcional quanto às ações e omissões da presidência do órgão”,

diz o documento.

Os servidores da Ence afirmam ainda que não permitirão que tais iniciativas da presidência do IBGE sejam usadas “como cortina de fumaça para desviar o foco das importantes e necessárias discussões com o corpo funcional sobre os benefícios e riscos relacionados à criação de uma fundação de apoio”.

“É preciso abrir espaço para o diálogo, de modo a superar a lamentável crise que se abateu sobre o IBGE”,

conclui a carta aberta dos trabalhadores da Ence.

O que diz Marcio Pochmann?

Em meio à crise interna, o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, afirmou ser “natural pessoas terem visões diferentes” sobre sua gestão à frente do órgão e disse não ver “problema nenhum” com as críticas.

O presidente, que esteve no Palácio do Planalto na segunda-feira (27), disse ter ido atrás do governo para obter recursos: “Essa é a minha preocupação.”

Pochmann esteve no Palácio do Planalto na tarde de segunda-feira, mas negou que tenha sido um encontro com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, a reunião de trabalho foi com o chefe de gabinete pessoal do Presidente da República, Marco Aurélio Santana Ribeiro.

Questionado se ele foi chamado nas últimas semanas pelo chefe do Executivo para tratar sobre as críticas que vem recebendo e uma possível saída do governo, ele respondeu: “A coleta está sendo feita normalmente, as pesquisas estão sendo feitas. É natural que haja divergências, as pessoas têm visões diferentes. A gente, democraticamente, aceita. Não vejo problema nenhum.”

Quem é Marcio Pochmann?

Pochmann é um economista heterodoxo e integrante do PT, além de ter proximidade com Lula.

Já foi candidato a deputado federal e a prefeito de Campinas, em 2012 e 2016, mas perdeu. Ele é professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde fez seu doutorado. Também presidiu o Ipea entre o fim do segundo governo Lula e o início da gestão de Dilma Rousseff.

Polêmico, o economista já fez críticas ao Pix e defendeu alíquota de até 60% para o imposto de renda.

*Com informações da Agência Estado

 

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